Geografia no museu – sentido do lugar

— Álvaro Domingues

Em tempos de globalização acelerada, o sentido do lugar parece cada vez mais vago e instável: ora vivemos em lugares obcecados pelo património, por um passado mítico, e por manobras de branding para manter a visibilidade e a competitividade face a outros lugares-destinos turísticos; ora tudo se dissolve no magma global incapaz de fixar localismos e identidades.

A verdade é que as cartografias das relações sociais não se inscrevem em lugares confinados de uma mesma geografia. Como escreveu Doreen Massey:

Instead then, of thinking of places as areas with boundaries around, they can be imagined as articulated moments in networks of social relations and understandings, but where a larger proportion of those relations, experiences and understandings are constructed on a far larger scale than what we happen to define for that moment as the place itself, whether that be a street, or a region or even a continent.

Nos lugares definem-se coexistências, acontecem coisas, partilham-se modos de ver o mundo. Por serem heterotopias, os museus podem constituir pontos excepcionais de onde se podem construir os sentidos dos lugares, convocando gente, desafiando-os a olharem uns para os outros e para os lugares onde vivem.