Desafios da mediação educacional enquanto diálogo de conhecimento— Alejandro Cevallos
A educação artística e os museus foram instituições que – agindo como ferramentas do colonialismo – tiveram um papel importante na imposição de ideias nos campos da estética, línguas e formas de conhecimento sobrepondo-se ao conhecimento indígena local.
Um exemplo óbvio no nosso contexto (Região dos Andes na América do Sul) é a distinção entre artes e artesanato, a qual não era apenas uma consideração técnica, tecnológica ou estética para classificar a cultura material; era sobretudo, e continua a ser, uma política que subestima e, em alguns casos, tenta evitar a circulação de "práticas criativas simbólicas" e formas de conhecimento local relacionado com a reprodução da vida comunitária.
Mas o que é que isto tem a ver connosco, mediadores educativos da arte de hoje? Talvez uma das grandes aspirações de uma mediação educacional que se posiciona como prática crítica seja descolonizar alguns dos seus princípios fundamentais. Embora possa parecer uma tarefa muito ambiciosa, alguns passos nesse sentido testam a nossa “capacidade de escutar” as comunidades com diferentes formas de produzir sentido que escapam aos nosso orçamentos e racionalidade, abrindo à possibilidade de um “diálogo de conhecimento"
Em 2011 começamos a trabalhar em processos de mediação crítica entre os museus e San Roque, um mercado popular no centro histórico de Quito. Por entre discursos sobre património, turismo, especulação imobiliária e o controle-expulsão de sectores populares, o nosso trabalho neste contexto atravessou diferentes momentos: um impulso de ‘ativismo anti-gentrificação’, mais tarde chegamos a uma reflexão sobre ‘mudança institucional’.
Em 2016 o nosso trabalho mudou de ritmo, após conversas com educadores de uma das escolas de San Roque, decidimos abrir uma oficina de bordados com mulheres que trabalhavam no mercado. Este espaço permitiu-nos reconhecer o território a partir de uma outra perspetiva, reconhecer as nossas diferenças comuns e recuperou o trabalho com as mãos como lugar de reflexão. Obviamente causou também outras contradições.
Em IMMER # 2 propomos uma workshop para revisão de alguns materiais, estórias e questões que surgiram enquanto bordávamos no Mercado popular de San Roque em Quito. Este será o ponto de partida para uma conversa atravessando as diferenças dos nossos contextos sobre sentidos, possibilidades e limites de pensar as nossas práticas como um diálogo de conhecimento.